A visão técnica da postura de um dirigente e sua relação com os médiuns da casa
Estivemos conversando, dia desses, sobre a questão “dirigente” e acabamos levantando algumas questões sobre o assunto. Questões muito pertinentes, principalmente com relação a mania que temos de “endeusar” o dirigente, transformando-o em algo a ser mais do que admirado, algo a ser glorificado.
Claro que isso é algo que teremos que discutir, mas acho que podemos dar um passo atrás e tentar observar de onde isso vem. Algumas pessoas aprendem desde muito cedo o papel de liderança e o utilizam, ao longo de sua vida, de uma forma muito eficiente. Alguns são líderes em seus locais de trabalho, alguns são líderes em sua roda de amigos, no bar, no futebol, no salão de cabeleireiros, em fim, em qualquer lugar onde exista gente. Quero só deixar claro que estou falando aqui da real liderança, não daquelas enviesadas por corporações, empresas, que ainda seguem um método arcaico de gestão. Estou falando da liderança nata.
O outro extremo também existe e não é de jeito nenhum motivo para nos envergonharmos, se nos encontrarmos aqui: geralmente líderes natos são péssimos especialistas. E bons especialistas são péssimos lideres. Mas, quem não consegue liderar, precisa exercer a função de liderado e aqui as coisas podem se complicar.
Ser liderado não é idolatrar a figura de comando. É entender que ele tem seu papel, assim como o liderado, e deve executar suas funções com plena responsabilidade, porque do seu agir, depende o trabalho de tantos outros. Mas parece que essa posição gera uma certa necessidade de aprovação nos liderados, essa necessidade pode beirar o extremismo e aí, se o líder não tiver muito firme em sua mente sua real posição, nós temos a figura do dirigente divino.
Agora vou falar especificamente do caso da Umbanda.
As pessoas que trabalham no centro começam a dar uma importância irreal a essa figura e passam a buscar sua aprovação de qualquer forma. Fazem de tudo para agradá-lo, assumem posturas estranhas acreditando que isso o fará bem ao olho do dirigente. Começam a fazer tudo para chamar a atenção para ter um pouco de carinho. E se isso não for colocado devidamente, passa a ser perigoso.
Vou dar um exemplo fictício (mas que não é tão longe da realidade assim): Algumas pessoas começam a “passar mal” toda gira. Começam a incorporar fora de hora. Começam a maltratar seus irmãos, tentando diminuí-los em detrimento de si próprio. Tudo isso para que o dirigente divino preste um pouco de sua atenção a ela.
Sei que isso é um assunto bem complicado porque ele é desencadeado pela falta de informação dos dois lados. O dirigente deveria, logo de início, tentar deixar claro seu real lugar no mundo, que é o mesmo de qualquer outro. A Ana, da Casa da Vó Maria Rosa, costuma dizer que ela não é “mãe de santo”, é só uma “facilitadora” entre os Guias e os médiuns. Isso não faz dela menor, pelo contrário, faz dela alguém que auxilia, não alguém que tem um pretenso controle. Os médiuns, por sua vez, deviam prestar atenção ao que fazem e não deixar que sua vida fora do terreiro interferisse com seus trabalhos, pois essa necessidade de atenção muitas vezes é decorrente de uma vida frustrada em algum ponto.
Mas acima de tudo, devemos ter em nossas mentes que não somos super-heróis. Nem nós, médiuns passistas; nem nós, dirigentes. Estamos no terreiro para sermos um mero veículo de comunicação entre espíritos Guias e assistentes, ou seja, não passamos de um mero aparelho de celular. E nem contamos com Bluetooth, wi-fi, internet e câmera de 8 megapixels.
Temos que ter respeito sim pela figura do dirigente espiritual, mas temos que ter discernimento também, para entendermos que respeito é uma coisa, servidão é outra.
Nino Delani
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